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HAJA COM EQUILÍBRIO

Se um homem estiver andando pela rua e se deparar, surpreendentemente, com um tigre, o sistema límbico (ou cérebro emocional) dele vai agir imediatamente em prol da sobrevivência, mandando mensagens rápidas para que ele corra o mais rápido possível e assim tentar escapar de um ataque do animal.

Se um homem ouvir impropérios de um outro homem de uma maneira injusta e até vexatória, poderá também se deixar levar pela emoção e, imediatamente, valer-se de uma resposta rápida e nem sempre muito bem articulada para aquele momento.

Esses dois tipos de comportamento foram e continuam sendo essenciais para a sobrevivência humana. Mas um age de maneira positiva e o outro pode atrapalhar na convivência humana. Uma complexa rede neurológica, apelidada também por Rede do Medo, trabalha em nosso sistema gerando estímulos que nos levam a reações imediatas, e isso tudo envolve questões sobre ansiedade, aflição, raiva e ataques.

As grandes responsáveis por tudo isso medem o tamanho de uma amêndoa e são chamadas de amígdalas cerebrais, parte destacável na neuroanatomia do nosso sistema límbico. São essas duas estruturas esféricas as principais “culpadas” por nossas respostas emocionais relativas ao comportamento social de humanos e de alguns outros mamíferos.

De uma maneira mais simples, podemos dizer que algumas reações tomadas no calor do momento e de maneira pouco racional são essenciais, sim, ao ser humano (como na hora em que o homem corre, sem nem pensar, para fugir do ataque de um tigre), mas também podem ser evitadas, assim como quando alguém nos acusa de alguma injustiça e, no afã do momento, atacamos o autor da acusação com alteração de voz e até xingamentos inapropriados.

Uma decisão sábia não pode ser tomada de qualquer jeito, em qualquer tempo ou hora. Apelido as amígdalas cerebrais de ferramentazinha que, tal qual um satélite, capta uma imensa quantidade de informações dentro do nosso cérebro diariamente e nos apresenta, após uma espécie de digestão ou indigestão, pelo menos dois caminhos a seguir: atacar ou fugir.

Quando a gente resolve atacar, influenciado pelas amígdalas cerebrais, tendemos à negação, negatividade e afronta diante daquela situação ou pessoa. E então nos permitimos frases nem sempre construtivas (algumas tomadas de ironia e sarcasmo), do tipo: “não vou fazer isso”, “não concordo com você” ou “você está de brincadeira comigo?”

Quando optamos pela fuga, ocorre uma reclinação propensa ao “deixa disso”, geralmente dotada de insegurança, e que nos prejudica também, pois tendemos a nos afastar de uma possível resolução do problema. Desta forma, estamos sendo traídos novamente por nossas amígdalas cerebrais, que nos levam ao conforto do famoso “tirar o time de campo”.

Atacando ou fugindo, a conclusão disso é um prejuízo para nós – com raras exceções, obviamente, envolvendo questões de sobrevivência e já nem sempre tão comuns em nosso dia a dia. Raras, porém, mas existentes. Pegue o exemplo do tigre e troque-o por um carro avançando em sua direção, em alta velocidade. Seu instinto também vai agir rápido e fará você correr para tentar não ser atropelado. Esta sim é uma situação extremamente comum no contexto urbano atual e que tem nas amígdalas cerebrais uma grande aliada.

Vamos esquecer as situações mais extremas e focar em nosso dia a dia, quando somos desafiados intermitentemente a participar do círculo social, tomado pela comunicação entre seres humanos, seja pessoal ou virtualmente, haja vista a enormidade de mensagens trocadas em aplicativos e redes sociais. Pois bem: nesse contexto, a minha sugestão é deixar a cabeça agir de maneira mais racional, não se deixando levar pela ligeireza das respostas estimuladas pelas amígdalas cerebrais.

De que maneira podemos fazer assim? Simples assim: contando até 10 segundos antes de reagirmos àquela “provocação” envolvendo mensagem, emissor e receptor. A situação envolve mais rapidez na resposta? Dez segundos podem ser uma eternidade naquele contexto? Então aguarde, no mínimo, 6 segundos antes de qualquer reação. E nunca se esqueça de respirar, pois precisamos oxigenar o cérebro para entender a mensagem, realmente digeri-la e, aí sim, agirmos de maneira sensata, racional e assertiva.

Pode parecer bobagem, mas não é! Relações humanas, troca de mensagens e atitudes bem pensadas antes de proferidas são determinantes nos dias de hoje. Estamos tomados por significâncias e significados existentes em cada palavrinha solta no ar, seja por texto, por áudio ou por vídeo. Tudo é texto, afinal. E nada mais somos do que a nossa mensagem, o nosso posicionamento e a nossa postura como ser humano disposto a executar o bem e favorecer coisas boas aqui na Terra.

Pense nisso. Não estrague o seu relacionamento amoroso, o seu ambiente de trabalho ou o seu vínculo de amizades agindo de maneira despropositada, literalmente falando besteiras e depois se arrependendo amargamente por ter agido daquela maneira.

Uma palavra proferida, já diziam os ensinamentos antigos, é como flecha lançada: não volta mais.

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